Francisco, Leão XIV

A sucessão dos pontífices é mais que um processo histórico — é uma travessia do Espírito pela barca de Pedro. Quando a Igreja olha para trás, o faz com gratidão e discernimento; quando olha para frente, responde ao apelo da Palavra viva. É nesse entrelaçamento entre continuidade e conversão que se inscreve o pontificado de Leão XIV, herdeiro da inquietação agostiniana, da doutrina de Leão XIII e da ousadia pastoral de Francisco.

Francisco devolveu ao mundo uma Igreja que vai ao encontro, que se antecipa ao sofrimento com ternura. Sua “Igreja em saída” expressa uma fé encarnada, que respira o Evangelho com os pulmões da misericórdia. Sua obediência ao “Ide” de Cristo, vivido com firmeza missionária, ecoa o impulso de Paulo e a alma inquieta de Agostinho.

Esse “Ide” foi também o motor de Santo Agostinho, cuja sede de Deus não se separava do desejo de anunciá-Lo. “Inquieto está o nosso coração enquanto não repousa em Ti”, dizia ele. Francisco transformou essa inquietação em critério de fidelidade diante da globalização da indiferença: não basta crer — é preciso mover-se.

Leão XIV acolhe e aprofunda esse legado. Inspirado na doutrina social de Leão XIII e no espírito de Francisco, propõe uma visão em que contemplação sustenta ação e verdade se encarna em justiça. Como Leão XIII respondeu aos dilemas da Revolução Industrial, Leão XIV enfrenta os desafios éticos e espirituais do mundo digital e fragmentado de hoje.

Sem repetir nem imitar, Leão XIV escuta. Seu nome remete à guarda da fé e à coragem da renovação. Num tempo que exige da Igreja autoridade com autenticidade, sua síntese entre tradição e compaixão aponta um novo modo de habitar o mundo com esperança.

Para nós, da Ordem Equestre do Santo Sepulcro, esse caminho tem sentido especial. Guardamos a memória viva da Terra Santa e servimos as comunidades cristãs que ali resistem. A inquietude de Agostinho, a missão de Paulo e o impulso de Francisco se cruzam em nossa vocação: somos enviados para consolar, não conquistar; para servir, não dominar.

A Igreja, como dizia Agostinho, caminha entre o cálice e o altar, entre o pão e a cruz. Francisco nos ensinou a caminhar com os olhos nos pobres. Leão XIV, com o coração na verdade. E ambos nos recordam: o Evangelho é uma pessoa viva que nos diz, como a Paulo: “Levanta-te e vai.”

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Deus Lo Vult